Tecnologia na
sala de aula
“Com metodologia certa e bom
planejamento, professor pode levar o mundo para dentro da classe”
(Erika
Nakahata)
Glaucia da Silva Brito é fundadora e
coordenadora do Grupo de Estudos Professores, Escola e Tecnologias Educacionais
(Gepete) e professora do curso de Comunicação Social e da pós-graduação em
Educação oferecidos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), deve-se ter o
cuidado de planejar a aula com a utilização da tecnologia e também sem
ela.
Afinal, nunca se sabe quando
haverá uma queda de energia elétrica ou quando algum imprevisto impedirá o uso
do laboratório de ciências, que havia sido planejado. Esses e vários outros
temas fazem parte das discussões realizadas via internet pelo Gepete, grupo que
a cada semana recebe de 15 a
20 solicitações de adesão. A seguir, confira a entrevista de Gláucia ao Guia
Prático para Professores:
Guia Prático: Tecnologia é
sinônimo de benefícios à educação?
Glaucia da Silva Brito: Se o professor não usar a metodologia
adequada, a tecnologia não agregará nada às suas aulas. Já vi professor usando
quadro digital apenas para mostrar um texto e pedir que os alunos o lessem, o
que poderia perfeitamente ser feito com papel. A questão é a metodologia. Não
se trata apenas de uma instrumentalização do professor, de ensinar a ligar e
desligar, mas de disponibilizar uma formação continuada e acompanhá-lo no
planejamento, mostrando como ele pode usar determinado recurso, quando e por
quê.
GP: O que muda na
metodologia?
GSB: É preciso pensar a aula com e sem
tecnologia, o que dá mais trabalho. Planejo uma aula sobre fotossíntese, por
exemplo: vou levar a turma ao jardim, vamos coletar folhas, observá-las no
microscópio do laboratório de ciências, assistir a um filme sobre fotossíntese
e pesquisar sobre o tema na internet. Mas, naquele dia, depois de coletar as
folhas, não conseguimos entrar no laboratório, porque a sala está sendo usada
por alunos do Ensino Médio. Ou não consigo exibir o vídeo porque estamos sem
energia elétrica. Minha aula acabou? Não, ela precisa continuar. Por isso, é
preciso planejar uma aula com recursos tecnológicos e a mesma aula sem eles,
lembrando que o equipamento não tem força nenhuma, mas sim o professor, que
sabe dar sua aula, independentemente de usar o quadro de giz ou um computador.
“Já
vi professor usando quadro digital apenas para mostrar um texto e pedir que os
alunos o lessem, o que poderia ser feito com papel”
GP: Como está o uso da
tecnologia na educação brasileira?
GSB: Hoje, de uma maneira ou de outra, o professor
tem tecnologia à sua disposição, seja um retroprojetor ou um computador de
última geração. A questão é como está sendo feita a formação continuada desse
professor para que ele possa usá-la. E defendo que a culpa não é dele. O
problema começa na formação que recebe nas licenciaturas, já que poucos
currículos discutem o uso das tecnologias na ação pedagógica. Além disso,
muitos projetos relacionados à tecnologia culpam o professor por seus
resultados. Mas não se pode chegar com um equipamento e exigir que o professor
o use sem receber a formação necessária para tirar proveito dele. O professor
já entendeu que está no século XXI, que trabalha com crianças e jovens em uma
sociedade tecnologizada e precisa inovar sua ação pedagógica. Mas é preciso
pensar na formação desse professor, do início ao fim do projeto, e depois em
sua formação continuada.
GP: Qual a situação das
escolas brasileiras nesse contexto?
GSB: As escolas públicas ainda ficam muito
dependentes dos projetos governamentais para levar o equipamento às escolas.
Além disso, alinhado ao projeto em si, é preciso que haja outro, voltado à
formação dos professores para o uso da tecnologia implantada. Já na escola
privada não há carência de equipamentos, mas nem sempre é oferecida a formação
adequada. Soube de uma escola que trocou os quadros de giz por quadros digitais
e viu seu número de alunos cair depois de um semestre porque os professores não
sabiam explorar o recurso. Outro aspecto é o fato de muitas escolas privadas
permanecerem naquele modelo da década de 1990, com o laboratório de
informática, quando já poderiam disponibilizar uma rede sem fio e seus alunos
poderiam levar seus notebooks.
GP: Não haveria risco de o
aluno utilizá-lo para outros fins?
GSB: Não podemos garantir que o aluno sentado no
fundo da sala, olhando para o professor, está realmente prestando atenção na
aula. Com ou sem tecnologia, a dúvida sempre existirá. Por isso, cabe ao
professor planejar sua aula e explicar ao aluno sua estratégia, indicando o
momento de usar o computador e o momento de prestar atenção no que está sendo
dito. Isso pressupõe que o docente revise seus materiais e atualize suas
leituras. Não dá mais para se apoiar nos caderninhos escritos anos antes, que
são muito comuns no Ensino Fundamental. O professor precisa estudar
continuamente, o que torna essa mudança na metodologia mais trabalhosa. Mesmo
assim, já há algum tempo o professor quer aderir às tecnologias, mas para isso
precisa de uma boa formação e de suporte, de modo que se sinta seguro ao usá-las.
GP: Na prática, qual o
segredo para explorar adequadamente a tecnologia?
GSB: O mais importante é o professor não usar o
retroprojetor, o data show, a televisão em que insere o pen drive ou qualquer
outro recurso apenas para expor conteúdo. É preciso utilizar a tecnologia para
que o aluno também produza. A dica é envolvê-lo na produção para que ele também
utilize a tecnologia e não fique restrito a uma participação passiva diante da
tecnologia. Caso contrário, a aula se tornará cansativa.
Entrevista
retirada de:
Nenhum comentário:
Postar um comentário