sexta-feira, 8 de junho de 2012

Tecnologia em Sala de Aula


Tecnologia na sala de aula
“Com metodologia certa e bom planejamento, professor pode levar o mundo para dentro da classe”
(Erika Nakahata)

Glaucia da Silva Brito é fundadora e coordenadora do Grupo de Estudos Professores, Escola e Tecnologias Educacionais (Gepete) e professora do curso de Comunicação Social e da pós-graduação em Educação oferecidos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), deve-se ter o cuidado de planejar a aula com a utilização da tecnologia e também sem ela. 
Afinal, nunca se sabe quando haverá uma queda de energia elétrica ou quando algum imprevisto impedirá o uso do laboratório de ciências, que havia sido planejado. Esses e vários outros temas fazem parte das discussões realizadas via internet pelo Gepete, grupo que a cada semana recebe de 15 a 20 solicitações de adesão. A seguir, confira a entrevista de Gláucia ao Guia Prático para Professores:

Guia Prático: Tecnologia é sinônimo de benefícios à educação?
Glaucia da Silva Brito: Se o professor não usar a metodologia adequada, a tecnologia não agregará nada às suas aulas. Já vi professor usando quadro digital apenas para mostrar um texto e pedir que os alunos o lessem, o que poderia perfeitamente ser feito com papel. A questão é a metodologia. Não se trata apenas de uma instrumentalização do professor, de ensinar a ligar e desligar, mas de disponibilizar uma formação continuada e acompanhá-lo no planejamento, mostrando como ele pode usar determinado recurso, quando e por quê.

GP: O que muda na metodologia?
GSB: É preciso pensar a aula com e sem tecnologia, o que dá mais trabalho. Planejo uma aula sobre fotossíntese, por exemplo: vou levar a turma ao jardim, vamos coletar folhas, observá-las no microscópio do laboratório de ciências, assistir a um filme sobre fotossíntese e pesquisar sobre o tema na internet. Mas, naquele dia, depois de coletar as folhas, não conseguimos entrar no laboratório, porque a sala está sendo usada por alunos do Ensino Médio. Ou não consigo exibir o vídeo porque estamos sem energia elétrica. Minha aula acabou? Não, ela precisa continuar. Por isso, é preciso planejar uma aula com recursos tecnológicos e a mesma aula sem eles, lembrando que o equipamento não tem força nenhuma, mas sim o professor, que sabe dar sua aula, independentemente de usar o quadro de giz ou um computador.
“Já vi professor usando quadro digital apenas para mostrar um texto e pedir que os alunos o lessem, o que poderia ser feito com papel”

GP: Como está o uso da tecnologia na educação brasileira?
GSB: Hoje, de uma maneira ou de outra, o professor tem tecnologia à sua disposição, seja um retroprojetor ou um computador de última geração. A questão é como está sendo feita a formação continuada desse professor para que ele possa usá-la. E defendo que a culpa não é dele. O problema começa na formação que recebe nas licenciaturas, já que poucos currículos discutem o uso das tecnologias na ação pedagógica. Além disso, muitos projetos relacionados à tecnologia culpam o professor por seus resultados. Mas não se pode chegar com um equipamento e exigir que o professor o use sem receber a formação necessária para tirar proveito dele. O professor já entendeu que está no século XXI, que trabalha com crianças e jovens em uma sociedade tecnologizada e precisa inovar sua ação pedagógica. Mas é preciso pensar na formação desse professor, do início ao fim do projeto, e depois em sua formação continuada.

GP: Qual a situação das escolas brasileiras nesse contexto?
GSB: As escolas públicas ainda ficam muito dependentes dos projetos governamentais para levar o equipamento às escolas. Além disso, alinhado ao projeto em si, é preciso que haja outro, voltado à formação dos professores para o uso da tecnologia implantada. Já na escola privada não há carência de equipamentos, mas nem sempre é oferecida a formação adequada. Soube de uma escola que trocou os quadros de giz por quadros digitais e viu seu número de alunos cair depois de um semestre porque os professores não sabiam explorar o recurso. Outro aspecto é o fato de muitas escolas privadas permanecerem naquele modelo da década de 1990, com o laboratório de informática, quando já poderiam disponibilizar uma rede sem fio e seus alunos poderiam levar seus notebooks.

GP: Não haveria risco de o aluno utilizá-lo para outros fins?
GSB: Não podemos garantir que o aluno sentado no fundo da sala, olhando para o professor, está realmente prestando atenção na aula. Com ou sem tecnologia, a dúvida sempre existirá. Por isso, cabe ao professor planejar sua aula e explicar ao aluno sua estratégia, indicando o momento de usar o computador e o momento de prestar atenção no que está sendo dito. Isso pressupõe que o docente revise seus materiais e atualize suas leituras. Não dá mais para se apoiar nos caderninhos escritos anos antes, que são muito comuns no Ensino Fundamental. O professor precisa estudar continuamente, o que torna essa mudança na metodologia mais trabalhosa. Mesmo assim, já há algum tempo o professor quer aderir às tecnologias, mas para isso precisa de uma boa formação e de suporte, de modo que se sinta seguro ao usá-las.

GP: Na prática, qual o segredo para explorar adequadamente a tecnologia?
GSB: O mais importante é o professor não usar o retroprojetor, o data show, a televisão em que insere o pen drive ou qualquer outro recurso apenas para expor conteúdo. É preciso utilizar a tecnologia para que o aluno também produza. A dica é envolvê-lo na produção para que ele também utilize a tecnologia e não fique restrito a uma participação passiva diante da tecnologia. Caso contrário, a aula se tornará cansativa.



Entrevista retirada de:

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